terça-feira, 31 de março de 2009

Prisão

Quem disse que no Brasil há liberdade religiosa? É sábado e estou preso, justamente por obedecer minha consciência religiosa. Há algumas horas me fizeram a pergunta: "Se você quiser, ainda há tempo para desistir." Não, eu não quis. Não iria violar minha crença quanto à guarda do sábado. Outros três amigos também deram a mesma resposta. Então, nos conduziram até esta sala. Tiraram nossos celulares e não permitiram que ficássemos nem com nossas Bíblias. Fomos trancafiados e só nos disseram uma palavra: "Aguardem."

Estou preso, embora já tenha ouvido que na Constituição Federal está escrito que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa em virtude de sua crença religiosa. Mentira, pois, agora, tenho minha liberdade tolhida.

Quantas vezes tive que explicar os motivos da minha crença? Quantas vezes já precisei responder a questionamentos tolos como "E se você pedir para seu pastor?", "Mas isto não é coisa do Antigo Testamento?", "Mas isto não é querer ser diferente demais?"

Podiam entender que não sou eu quem está na contramão, mas o próprio mundo. Estou no caminho retilineamente traçado pela Bíblia. Jesus não autorizou qualquer mudança na Lei, foram os homens que mudaram o sábado para o domingo e são os homens que inventam uma série de argumentos tentando justificar essa mudança. Mas quem ousa entender isso? É mais fácil aceitar o que a maioria diz, não é?

Olho para os demais da sala, sentados em cadeiras, fazendo a única coisa que podem: esperar. Assim como eu, já devem ter explicado para várias pessoas a razão de sua fé. Para professores que insistem em fazer atividades aos sábados, ou para o diretor que queria obrigar o aluno a desfilar em comemoração ao 7 de Setembro que caíra no sétimo dia. Em entrevistas de emprego, para reitores de faculdades, seja onde for, sempre que explicamos, a reação é a mesma: torcem o nariz e nos tratam como se tivéssemos cérebro de ameba ou vivêssemos naquelas vilas de dois séculos atrás, usando barbas longas ou vestidos azulados que tapam do pescoço aos pés.

Liberdade religiosa. Balela. Somos constantemente violados em nossos direitos, precisando explicar, esclarecer algo que o homem natural parece não compreender, pois nossas razões - embora facilmente demonstradas por uma pessoa que acredita na Bíblia - são espirituais.

O sol está se pondo e uma das moças propõe orarmos. Fazemos uma oração, agradecendo por aquele dia de descanso, embora tenhamos passado toda a tarde enclausurados numa sala sem nenhum conforto. Pedimos, em especial, que Deus esteja conosco durante a difícil prova que seguirá nas próximas horas. Assim que terminamos a oração, a porta se abre.

Uma mulher sorridente, de jaleco branco e com um crachá escrito "Fiscal" acima de seu nome, diz:

- Já é noite. Agora vocês podem sair e fazer suas provas de vestibular.

Denis Cruz - Formado em Direito, atualmente trabalha como servidor público no Estado do Mato Grosso do Sul, onde reside na cidade de Mundo Novo. Escritor nos tempos vagos, tem se dedicado, ultimamente, à escrita de contos contendo valores cristãos e livros de mesmo cunho. Contato: deniscdacruz@hotmail.com